Um episódio marcado por tensão e protestos movimentou a 15ª Conferência Municipal de Saúde de Cuiabá, na última semana. Durante o evento, o prefeito Abílio Brunini (PL) interrompeu a fala de uma professora que utilizou a palavra “todes”, símbolo da chamada linguagem neutra, e anunciou publicamente que o uso desse tipo de linguagem está proibido em eventos relacionados à prefeitura.
A professora Maria Inês Barbosa, que discursava para uma plateia de profissionais e militantes da área da saúde, deixou o local alegando ter sido vítima de uma postura “autoritária” por parte do gestor municipal. O caso gerou revolta entre participantes, que chegaram a confrontar o prefeito após a interrupção.
Em sua fala, Abílio Brunini reforçou a posição de veto:
“Todes não existe. Todas as pessoas existem, ‘todes’ não. Todes é uma palavra que não existe na língua portuguesa. Em qual dicionário está escrito ‘todes’?” — declarou.
O prefeito também afirmou que a Conferência Municipal de Saúde, como instrumento oficial, não pode ser usada como “ato de militância do pronome neutro”, ressaltando que o evento é promovido e custeado pelo município.
A repercussão foi imediata na Câmara Municipal de Cuiabá. O vereador e policial federal Rafael Ranalli (PL) protocolou um projeto de lei que pretende proibir oficialmente o uso da linguagem neutra ou não binária em documentos oficiais, materiais pedagógicos e na rede de ensino municipal.
Enquanto setores conservadores defendem a decisão como forma de proteger a língua portuguesa e combater o que chamam de “ideologia de gênero”, movimentos estudantis e grupos LGBTQIA+ consideraram o ato uma censura e um ataque à diversidade.
O caso reacende o debate sobre o uso da linguagem neutra em espaços públicos e a tensão entre liberdade de expressão, representatividade e políticas conservadoras em gestões municipais.